Setor de cartão de crédito sugere o fim do parcelamento sem encargos. Em troca, bancos repassariam recursos mais rapidamente aos lojistas. Taxas caem no rotativo em 2017, mas se mantêm acima de 300% ao ano
Parcelar compras sem juros pode estar com os dias contados. O setor de cartões de crédito está pleiteando, no Banco Central, o fim dessa modalidade de pagamento. A alternativa será oferecer, ao consumidor, o crediário, que é uma espécie de financiamento. A Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs) confirmou o interesse na alteração, mas afirmou que as discussões ainda são “iniciais”.
Na prática, o consumidor faria as compras com base em um limite concedido pelo banco, que poderia ser utilizado em qualquer loja. A instituição financeira, segundo informações publicadas pelo Valor Econômico, teria cinco dias para transferir o valor às lojas e assumiria o risco do não pagamento.
Dessa forma, a opção de número de parcelas não caberia mais ao empresário que vende o produto, mas, sim, aos bancos, que colocariam limites nos pagamentos. Sendo assim, as operadoras de cartão teriam um custo menor em caso de inadimplência do consumidor. A Abecs não se posicionou sobre como funcionaria a medida para alguns setores, já que o recurso do parcelado sem juros é utilizado com frequência na compra de passagens aéreas, por exemplo.
“É uma medida estranha, porque, na verdade, os juros já estão embutidos no valor das parcelas. Não existe almoço grátis. Eu não vejo isso como uma prática que possa melhorar as ações de crédito. É um meio para o setor de lojistas e empresas de cartão manterem a rentabilidade, que não é baixa. Esse movimento ocorre diante de um contexto em que os juros estão em queda”, apontou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Mercado de crédito em recuperação
O Banco Central informou que não vai se posicionar sobre o tema. Ontem, a autoridade monetária divulgou a Nota de Crédito do sistema financeiro. Os juros do rotativo do cartão de crédito caíram 163,1 pontos percentuais em 2017, mas ainda estão acima de 300% ao ano. Fechou em 334,6%.
A modalidade de pagamento é dividida em regular — para aqueles que pagam, pelo menos, o valor mínimo da fatura — e não regular — para quem paga valores inferiores. De acordo com os dados da autoridade monetária, os juros para o primeiro grupo ficaram em 233,8% ao ano, recuo de 231,8 pontos percentuais no ano. Já as taxas para o o segundo caíram 118,3 pontos percentuais em 2017, alcançando 401,4% ao ano.
Os juros do cheque especial ficaram em 323% ao ano, após queda de 5,6 pontos percentuais, enquanto os do parcelado subiram 15,4 pontos, alcançando 169,2% ao ano. O Indicador do Custo de Crédito (ICC) — que mede todas as operações do sistema financeira — de pessoa física ficou em 26,6% ao ano, depois de cair 2,2 pontos percentuais.
Segundo o chefe do Departamento de Estatística do Banco Central, Fernando Rocha, o mercado de crédito iniciou um processo de recuperação, que é mais visto no orçamento das famílias. “O crédito para pessoas físicas é o que tem se recuperado de forma mais significativa e o saldo total de R$ 1,648 trilhão para as famílias, em dezembro, foi o maior da série histórica, iniciada em março de 2007”, afirmou.