Queda no lucro do Santander viraria crescimento de 8,8% sem a PDD

Banco fez uma reserva de R$ 10,4 bi, para cobrir possíveis calotes que reduziu o lucro de R$ 7,749 bilhões para R$ 5,989 bilhões; Lucro do banco no país representa 32% de todo seu lucro mundial, mesmo assim, promoveu redução no quadro funcional de 844 postos de trabalho em plena pandemia

  • Santander lucrou R$ 5,989 bilhões no 1º Semestre de 2020;
  • Resultado poderia ser ainda maior se o banco não tivesse aumentado em 63% as provisões para créditos de liquidação duvidosa (PDD);
  • Rentabilidade anual foi de 17,1%;
  • Brasil é responsável por 32% do lucro mundial do banco;
  • Mesmo com o expressivo resultado, banco reduziu seu quadro de pessoal em 844 postos de trabalho nos últimos três meses.

O banco Santander obteve um Lucro Líquido Gerencial de R$ 5,989 bilhões no 1º semestre de 2020, mesmo após ter realizado uma provisão para créditos de liquidação duvidosa (PDD) de R$ 10,4 bilhões. O secretário de Assuntos Socioeconômicos da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Mario Raia, chamou a atenção para o resultado com expressivo lucro. “Não podemos deixar de observar que, apesar de o banco ter dito que houve queda de crescimento, não foi registrado prejuízo, mas sim um lucro de quase R$ 6 bilhões. E também é preciso ressaltar que a base de comparação é o resultado obtido em 2019, quando o banco registrou números astronomicamente altos”, disse.

O dirigente observou que a queda de 15,9% do lucro no primeiro semestre registrado pelo banco, seria uma alta de 8,8%, ao ser excluído o efeito da provisão extraordinária e elevaria o lucro para R$ 7,749 bilhões, de acordo com análise feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base nos dados relatório apresentado pelo banco na manhã de quarta-feira (29).

Os valores das despesas com provisões para créditos de liquidação duvidosa (PDD) cresceram 63%. Segundo o banco, essa alta na PDD é decorrente de uma despesa de provisão extraordinária de R$ 3,2 bilhões no trimestre.

No primeiro trimestre de 2020 o banco já havia registrado lucro líquido gerencial de R$ 3,85 bilhões, crescimento de 10,5% na comparação com o mesmo período de 2019.

Análise cuidadosa

“Os números do balanço do primeiro semestre, apresentados pelo banco na quarta-feira, precisam ser analisados com muito cuidado. E não podemos deixar de destacar que houve crescimento de 63% da PDD, mesmo tendo sido registrado um índice de inadimplência (superior a 90 dias) de apenas 2,4%, que, aliás, vem caindo”, observou o dirigente da Contraf-CUT, que é funcionário do Santander. A queda da inadimplência citada foi de 0,6% pontos percentuais em 12 meses.

“Ou seja, houve queda de crescimento, mas essa queda se deu devido à reserva de recursos feita pelo banco para um possível calote que, na verdade, vem se reduzindo. Todo esse montante continua nos cofres do banco e podem ser resgados futuramente”, completou.

País das maravilhas

Para Mario Raia, outra variável que mostra que o Santander Brasil não tem do que reclamar é rentabilidade obtida pelo banco. O retorno sobre o Patrimônio Líquido Médio Anualizado (ROE) ficou em 17,1%. Excluindo-se o efeito da PDD adicional, a rentabilidade ficaria em 22,1%.

Outro dado do balanço do banco destacado pelo secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT é que o lucro obtido no Brasil representou 32% do lucro global do Santander, que foi de € 1,908 bilhão (queda de 48% em relação ao 1º semestre de 2019, em Euros constantes). O resultado global foi fortemente impactado pela pandemia da Covid-19 no mundo e a deterioração do cenário econômico decorrente desta.

“O Brasil é o país no qual o Santander obtém a maior fatia de seu lucro. Não dá para admitir que o banco obtenha 32% de todo seu lucro mundial aqui e vá para a imprensa dizer que as demissões que está realizando se dão em função do baixo desempenho das pessoas. Isso é inconcebível”, criticou o dirigente da Contraf-CUT. “E ainda não quer que se fale em metas abusivas?”, completou.

Além das demissões, Mario Raia enumerou outras questões que afetam apenas os funcionários brasileiros do banco. “Para o Santander, o Brasil é ‘país das maravilhas’. Mas, para os funcionários brasileiros, o banco age como se fosse a rainha má. Em nenhum outros país, o banco demitiu durante o período de pandemia. Aqui sim. Nos outros países, as horas não trabalhadas no período da pandemia são abonadas por serem consideradas como questão de saúde pública, aqui, o banco criou banco de horas negativas para aqueles que não puderam trabalhar. Nos outros países, o banco não cobra tarifas por serviços bancários de seus funcionários, aqui temos que pagar. É o novo colonialismo implantado pelo banco espanhol”, afirmou, Mario Raia.

Com a cobrança pela prestação de serviços e tarifas bancárias o Santander obteve uma receita de R$ 8,584 bilhões. Isso é 87,2% maior do que toda a despesa que o banco tem com seus funcionários, que somou R$ 4,585 bilhões no período.

#SantanderRespeiteOBrasil

A Coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, Maria Rosani, chama a atenção sobre o fechamento de postos de trabalho promovido pelo banco em plena pandemia. A holding encerrou o 1º semestre com 46.348 empregados, com fechamento de 2.564 postos de trabalho em doze meses, sendo 844 apenas no segundo trimestre, durante o período de pandemia de Covid-19 no país. Da mesma forma, foram fechadas 93 agências em doze meses, sendo 50, entre março e junho de 2020.

“O banco promove uma verdadeira demissão em massa, mesmo após ter assumido o compromisso de que não promoveria nenhuma demissão durante o período de crise causado pela pandemia. É por isso que temos denunciado e vamos continuar denunciando essa falta de compromisso do banco com o país e com os brasileiros. Como os clientes podem confiar em uma instituição que deixa de honrar compromissos assumidos?”, questionou Rosani.

Veja abaixo a tabela resumo do balanço, ou, se preferir, leia a íntegra da análise feita pelo Dieese.